Dou por mim a ler Caeiro,
Imersa na simplicidade dos seus versos,
Na pureza do teor das suas mensagens,
Sem complicações e quaisquer rodeios,
O poeta assevera que está livre de floreios
Ó “Guardador de Rebanhos”, quem me dera…
Quem me dera ser um pouco mais como tu,
Não perder-me em ávidos e tenebrosos pensamentos,
Não questionar tanto o mundo e os seus portentos,
E contemplar mais o sol, o campo e as flores
Se me pudesses ler, ai se me pudesses ler…!
Ó mais cândido dos heterónimos de Pessoa,
As mãos à cabeça erguerias, em sinal de inquietação
“Doente” me apelidarias, por sentir dor e pensar,
Por questionar a vida e os seus desígnios,
Sem querer aceitar que a vida é só isso mesmo: vida.
Quem me dera ser um pouco mais como tu,
Não eras um artista, nem o querias ser,
Rejeitavas sonhos e ambições, quanto mais obras-primas
Nos teus versos não há margem para arte de artesão,
As tuas linhas não retratam um muro,
Mas antes um ideal de perfeita imperfeição!
Na tua pequena aldeia a natureza admiravas,
Não como um todo, mas no seu particular,
Os rios, o cantar dos pássaros e a chuva,
Dispensavas a escrita à moda dos carpinteiros
E que bem que tudo te saía!
Porque em vez de pensar…,
Ai porque em vez de pensar, tu sentias!
Poema originalmente publicado na edição nº.1024 do quinzenário
A Voz de Cambra (1.ª/2.ª jan. 2017)