Querido Diário, meu querido
Quisera eu perceber o que se passa comigo
Qual a origem desta triste maleita,
Que sempre que me deito
Surge, sorrateiramente, para atormentar meu leito
Ai Querido Diário, meu querido
Conseguisse eu saltar fora da cama
Sem entoar ais e uis de lamentos
E o dia poderia ser mais colorido,
Ou revestido com menos tons cinzentos
Querido Diário, meu querido
Mas que dor é esta que me apoquenta?
Que não me larga e consome
Que faz tamanhas mossas em mim
Tão graves como qualquer greve de fome
Ai Querido diário, meu querido
Pergunto porque perco eu tempo contigo?
Tu que nunca me dás respostas
Deixando-me privada nas minhas palavras
Para as quais o teu silêncio são como linhas tortas
Mas que quero eu afinal?
Querido Diário, meu querido
Perdoa-me estes pensamentos incautos
Tu és apenas um simples livro
E, por isso, quero ficar contigo
Com ou sem estes sobressaltos
Ai Querido diário, meu querido
Somos só tu e eu neste mundo,
Neste mundo irremediavelmente ferido.