De frente para a Serra da Freita
Perdida nos montes que cercam o vale
Nasci e cresci numa pacata aldeia
Que nada tem, mas tudo tem
Na falta do charme doutras paragens
Na falta dos rios de água pura para banhos
Na falta das corridas para o deleite do pôr de sol
Na falta do melhor dos cantos de rouxinol
Esta aldeia absolutamente nada tem
Não há lojas, nem o mínimo de confusão
Não há louvores bucólicos inspirados em Torga
Não há bichos surreais, nem turismo rural
Não há algo merecedor do adjetivo especial
Esta aldeia absolutamente nada tem
A imaturidade típica da precoce idade
Cegou-me, contudo, a capacidade de olhar além
De ver aquém do concretamente visível
De atentar na linha do horizonte do indizível
Esta aldeia absolutamente tudo tem
Do aconchego humano que agora escasseia
Das brincadeiras solitárias da infância
Dos saltos imaginários em mundos sem fim
Dos infinitos malmequeres e o cheiro a alecrim
Esta aldeia absolutamente tudo tem
Dos domingos do assado no forno de lenha
Da broa de milho caseira posta à mesa
Hoje reina uma saudosa e inviolável certeza:
-Nasci e cresci numa aldeia que nada e tudo tem!
Belíssimo poema!
E eu, arouquense de gema e incontornável amante da natureza e da Serra da Freita, transpirei nesta leitura também um bocadinho de mim.
Com certeza não me vou arrepender de seguir este blogue.
Bem haja!
Cátia Cardoso
http://osodracaitac.blogspot.pt/
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Muito obrigada pelas tuas palavras tão simpáticas Cátia! Espero que os meus poemas e posts continuem a merecer a tua atenção. De facto, acho que este poema pode aplicar-se aos muitos valecambrenses e arouquenses, sem dúvida. É um ter nada e tudo ao mesmo tempo, só por quem lá passa consegue entender.
Beijinhos!
https://cronicasdeutopiablog.wordpress.com
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