Nos anos 30, as memórias da I Guerra ainda permaneciam vivas em França; mas era um ponto onde ninguém queria voltar. No ambiente boémio citadino, ou na pacatez do campo, entre casas e famílias desfeitas, os franceses seguiam em frente; uns construíam um novo lar, outros minoravam a dor no álcool. Em qualquer um dos casos, para a frente era o caminho. No entanto, o estado de acalmia estava prestes a ser desfeito com a ocupação nazi; este é o cenário literário d’O Rouxinol, romance de Kristin Hannah, autora norte-americana.
O enredo leva-nos a recuar até à II Guerra, percorrendo um dos períodos mais negros da história francesa, num misto de admiração e repulsa, de conflito e reconciliação; numa perspetiva incomum assente em protagonistas femininas – duas irmãs separadas pelos anos e pelo modo de estar na vida. Vianne e Isabelle, cada uma à sua maneira, vão enfrentar as agruras da guerra, numa jornada de pura resistência, longe da linha frente, mas igualmente admirável.
Em 1939, na pacata vila de Carriveau, Vianne Mauriac despede-se do marido, Antoine, que parte para travar os soldados alemães. Numa fase inicial, ninguém acreditava que fosse possível uma ocupação nazi, mas quando o governo francês anunciou a rendição, tudo mudou… O país foi dividido numa Zona Livre e noutra Ocupada, entregue às tropas de Hitler. Esta divisão territorial estabelece uma analogia para a própria relação entre as duas irmãs. Durante muito tempo, Vianne e Isabelle mantiveram-se demasiado afastadas, mas os seus destinos vão-se cruzar e fortalecer com a guerra.
Com o marido fora e a responsabilidade de criar a pequena Sophie, o quotidiano de Vianne torna-se ainda mais difícil quando um oficial nazi se muda para sua casa. Zelosa por natureza, Vianne aceita passivamente a invasão do seu lar, algo que espoleta uma total incompreensão na sua irmã mais nova. Isabelle Rousignol, de espírito destemido, recusa-se a conviver com o inimigo e alista-se à resistência francesa, onde vai assumir um papel ativo. De algum modo, os caminhos das duas irmãs parecem totalmente opostos, mas o narrar da história traz-nos dados novos: a evolução de Vianne e como esta se torna numa heroína; e aquilo que parecia um eterno conflito fraternal nada mais é do que puro amor.
Entre 1939 e 1944, Vianne e Isabelle representam todas as mulheres francesas que tiveram que lutar diariamente pela sua sobrevivência, em condições de ameaça de morte constante, pobreza e fome; as suas armas não disparavam balas, mas salvavam vidas. O Rouxinol é um relato literário comovente que explora o imaginário aterrador da II Guerra, mas também a beleza e o poder das relações humanas. Ontem como hoje, é preciso cantar o amor em tempos de guerra.
CLASSIFICAÇÃO FINAL: 8/10
FICHA TÉCNICA DO LIVRO:
Título: «O Rouxinol»
Autora: Kristin Hannah
Tradução: Marta Pinho
Edição: Bertand Editora
SOBRE A AUTORA
Kristin Hannah é uma daquelas escritoras de sucesso, cujo rumo profissional iniciou noutra esfera. Nascida em 1960, na Califórnia (E.U.A), Kristin trabalhou alguns anos em publicidade e em escritórios de advocacia. Contudo, quando a gravidez a atirou para a cama durante vários meses, foi na escrita que a norte-americana encontrou um refúgio para o tédio. No início, Kristin aproveitou para recuperar alguns textos antigos que tinha escrito em parceria com a falecida mãe. No entanto, a nostalgia do passado foi apenas o pavio para uma incursão profunda no mundo das palavras. Atualmente, a autora conta com 19 romances publicados, incluindo traduções em vários idiomas, e já recebeu diversos prémios.
Fiquei interessada no livro. De repente lembrei-me do primeiro livro que li na disciplina de francês (há umas décadas) sobre a ocupação dos lares franceses pelas tropas do Eixo “Le Silence de la Mer”. Ainda o tenho.
Coisas de Feltro
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Descobri Kristin Hannah com o livro “A Grande Solidão” e desde então tenho seguido de perto as suas obras; a autora não desilude! “O Rouxinol” é uma grande história e ensina-nos, que mesmo em tempos de guerra, precisamos e há lugar para amor. Aconselho vivamente!
E já agora obrigada pela sua vinda ao meu blogue, se estiver interessada em mais conteúdos literários passe a seguir-nos nas redes sociais, seria um prazer tê-la comigo! 😊🙏
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Boa crítica 😊 Fiquei ansiosa por ler o livro 📖
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Obrigada pelo comentário! 😊 Fico feliz que tenha gostado da crítica! E o livro sem dúvida que vale a pena (muito a pena) 🙏
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